terça-feira, 17 de outubro de 2017

Veg(etari)anismo, parte 2: OK, você não quer mais comer carne. E agora?


(Este texto é carinhosamente dedicado a todos os atendentes de lanchonetes, padarias e casas de sucos que, quando a gente pergunta se tem algum salgado sem carne, oferecem salgados com presunto, salsicha, frango, calabresa, bacon...)

Primeiro, o lado fácil

Em 2015, a minha situação (apesar de ser a mesma de milhões de pessoas) era particularmente privilegiada para quem está pensando em virar vegetariano: eu trabalhava num escritório numa área central de uma grande metrópole, e por isso eu e os supracitados milhões tínhamos que almoçar fora todo dia. Área superlotada de restaurantes de todo tipo, com destaque especial para bufês self-service - por peso ou não, e que uhú, aceitam o vale da empresa!

Se você está nessa situação, se tornar vegetariano será a coisa mais fácil do mundo. Simplesmente faça seu prato sem nada que leve carne. Metade das travessas terão que ser ignoradas mas, a não ser que você seja a Magali, a variedade que resta é muito, muito mais que o suficiente para satisfazer a mais gastronomicamente hedonista das pessoas. Valem os preceitos básicos de uma alimentação saudável: variedade, não exagerar nas gorduras e nos carboidratos, sempre incluir algum legume, verdura ou fruta frescos, etc.

Para quem cozinha em casa pode dar um pouco mais de trabalho manter a variedade necessária, mas não chega a ser de maneira alguma uma tarefa hercúlea.

Acima: um monte de mato sem gosto. #sqn

(Se você está considerando virar, não vegetariano, mas vegano, pode ser necessário tomar alguns cuidados adicionais, particularmente quanto à necessidade de vitamina B12, que um vegetariano pode obter com ovos e laticínios. Mas essa é outra questão. Informe-se com um nutricionista.)

Tem mais uma coisa. Um fator que pode complicar é: você é "ruim de comer"? Você era daquelas crianças que só comiam arroz, feijão, bife e batata frita? Você era não a Magali, mas o Dudu? E continua sendo assim na idade adulta? A ideia de comer um prato desconhecido - qualquer um, mesmo sem saber detalhes sobre ele - é equivalente à ideia de comer vidro moído? Então pense duas vezes antes de abrir mão totalmente da proteína animal, porque a variedade de coisas comestíveis para você já é baixa e vai diminuir. Não é impossível, mas você vai sofrer. Na melhor das hipóteses, pode ser um estímulo para ser mais tolerante com comidas novas.

Acidentes de percurso

A não ser que você vá cozinhar toda a sua comida e nunca comer fora, você vai inevitavelmente morder uns pedaços acidentais de carne aqui e ali. Exemplo: aquele enroladinho de escarola que o funcionário do boteco não disse que tinha pedaços de bacon. Aquele salgadinho na festa de 1 ano do seu sobrinho que você jurava que era uma bolinha de queijo mas era uma mini-coxinha. O chinês da pastelaria que disse que o pastel de carne do seu amigo era o de baixo e o seu, de palmito, era o de cima, mas era o contrário. Acontece. Não se torture por causa disso. Adquira o hábito de perguntar os ingredientes das coisas (acaba se tornando tão natural quanto dizer bom dia) e episódios como esse vão diminuir.

Reações

A única amostragem testemunhal que eu tenho é a minha própria, portanto o valor estatístico dela é zero. Não me sinto capaz de lhe dizer se você vai ser muito ou pouco ridicularizado e/ou criticado ao dizer que agora é vegetariano ou vegano. Eu? Eu tive sorte. O único insulto foi alguém (que deveria saber melhor) me dizer que achava virar vegetariano "viadagem". Depende muito do ambiente e da família. Mas uma coisa eu posso prever: a probabilidade de ouvir esse tipo de idiotices aumenta se você se relaciona com muitas pessoas conservadoras/reacionárias/direitistas etc. Esse povo tende a não gostar de vegetarianos e menos ainda de veganos. (O que eu considero como corroboração de que tomei a decisão certa.)

Peixe

Tecnicamente, não sou um vegetariano de verdade. Não eliminei totalmente peixe e frutos do mar da minha dieta. Motivo? Minha filha ama, de paixão, ir comigo ao rodízio de sushi, eu não estava disposto a abrir mão disso e acabei sendo esse troço aí do link. (Pescetariano? Não podiam arrumar uma palavra menos feia?) Ao ritmo de aproximadamente um rodízio de sushi a cada dois meses, meu consumo de proteínas animais não chega a 2% do que era. É uma opção bastante popular, na verdade. Caso contrário, não haveria um termo na Wikipédia para ela. Dã.

Agradecimentos

O Moby e o Buck Rogers não me empurraram sozinhos ao ponto de eu ter tomado esta decisão. Ao longo dos anos, um monte de gente com quem eu convivi, sejam quase-vegetarianos como eu (vocês sabem quem vocês são), vegetarianos propriamente ditos (vocês também sabem quem são) e veganos (ora raios, vocês também sabem quem são!) exerceram, sem saber, uma força (dividida pela massa, dá aceleração). Ninguém fez campanha de nada. Ninguém tentou me convencer de nada. Bastou o exemplo.

Mas vejam bem. Os meus motivos são os meus motivos. Os seus motivos podem ser diferentes. Há várias causas que podem fazer uma pessoa querer eliminar o consumo de carne. Mas isso fica para mais tarde.


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